A redução, de mais de 60%, ocorre após decisão polêmica do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) de ampliar investimento para o adulto
A Confederação Brasileira de Basketball (CBB) fechou nesta última semana o seu planejamento para os Campeonatos Brasileiros Interclubes de Base, em parceria com o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC). Para 2021, o calendário terá disputas nas categorias sub-14, sub-16 e sub-19, nos naipes masculino e feminino, além do Basquete 3×3, somando ao todo 10 torneios. A fórmula de disputa e as datas exatas ainda dependem da pandemia da COVID-19 e seus desdobramentos, mas já é certa uma redução de mais de 60% no número de competições após decisão do CBC de ampliar seu investimento para a categoria adulta em parceria com a Liga Nacional de Clubes.
“É lamentável a opção do CBC de diminuir o investimento no basquete de base em prol do profissional. A necessidade da base é muito maior e tirar de um para colocar em outro não é a melhor escolha. Após a Rio 2016, o esporte olímpico brasileiro viu uma debandada de patrocinadores e diminuição do repasse ao esporte. Através de dinheiro público, o CBC surgiu como uma alternativa para a manutenção da qualidade dos torneios de base. E essa mudança de mentalidade, infelizmente, irá prejudicar o desenvolvimento de muitos jovens. Vamos continuar em busca de recursos e parcerias para seguir fortalecendo a base”, citou o presidente da CBB, Guy Peixoto Jr.
A parceria entre o CBC e a CBB para o Campeonato Brasileiro Interclubes de Base começou em 2017 e avançou de forma substancial nos últimos três anos, trazendo desenvolvimento para árbitros, atletas, técnicos e clubes, além de ampliar o número de clubes filiados ao CBC. Tudo isso em torneios de tiro curto, em sintonia com o calendário escolar, sem prejudicar o desenvolvimento estudantil e também os cronogramas das federações estaduais. Em síntese, os torneios CBC/CBB não trazem apenas desenvolvimento em quadra para os jovens, mas também fora dela. Veja abaixo o panorama:
2018
– 09 campeonatos (3 femininos e 6 masculinos)
– 106 árbitros (32 femininos e 74 masculinos)
– 309 jogos (69 femininos e 240 masculinos)
– 106 equipes (26 femininos e 80 masculinos)
– 1272 atletas (312 femininos e 960 masculinos)
– 12 estados (6 femininos e 11 masculinos)
2019
– 10 campeonatos (5 masculinos e 5 femininos)
– 115 árbitros (49 femininos e 66 masculinos)
– 353 jogos (99 femininos e 264 masculinos)
– 122 equipes (34 femininos e 88 masculinos)
– 1464 atletas (408 femininos e 1056 masculinos)
– 18 estados (5 femininos e 13 masculinos)
2020 (calendário pré-pandemia)
– 26 campeonatos (12 femininos e 14 masculinos)
– 200 árbitros (84 femininos e 116 masculinos)
– 645 jogos (168 femininos e 477 masculinos)
– 210 equipes (56 femininos e 154 masculinos)
– 2424 atletas (672 no feminino e 1752 no masculino)
– 17 estados (7 femininos e 10 masculinos)
2021 (Expectativa com o próximo calendário)
– 10 campeonatos
– 138 árbitros
– 444 jogos
– 98 equipes
– 1440 atletas
Com o teto de execução destinado pelo CBC para a realização dos torneios de base junto à CBB para o próximo calendário, a queda com relação ao planejado para 2020 será drástica. Até então, a parceria garantia a realização de competições no sub-13, sub-14, sub-15, sub-16, sub-18, sub-21 e sub-23, masculino e feminino, alguns com séries A e B, além do Basquete 3×3 no sub-14, sub-17 e categoria aberta, também nos dois naipes. Agora, com a verba que será executada pelo CBC, será possível realizar apenas edições do sub-14, sub-16 e sub-19, além de duas edições do Basquete 3×3, com masculino e feminino em ação, o que representará uma queda de mais de 60% no número de eventos, com menos crianças em quadra, árbitros e técnicos se desenvolvendo.
Na parceria com o CBC, a CBB é responsável pela organização técnica dos torneios, além de toda a parte de inscrição das equipes, layout de quadra, estatísticas, árbitros e também a promoção e divulgação das competições.
A Confederação Brasileira foi procurada e informou aos clubes formadores e técnicos da base que a decisão do CBC é soberana. Como a maioria dos projetos não trabalha no alto rendimento, seus atletas sofrerão ainda mais o impacto da queda no número de campeonatos. Com a pandemia da COVID-19, essa alteração representa também um segundo “ano perdido”, já que 2020 não pôde ter o calendário proposto.
Ex-jogador de CR Flamengo, CR Vasco da Gama, Fluminense FC, Botafogo FR e Seleção, e hoje técnico da base do Tricolor carioca, Ricardinho disputou CBCs como treinador e também é pai de atletas. Para ele, tirar verba da base é um retrocesso.
“Não tem que tirar de um para colocar em outro. É legal a parceria do CBC com a LNB, que hoje é o maior campeonato do país. Mas tirar da base me deixou chateado. Não só a mim, como a grande maioria dos técnicos. Poderiam existir outros caminhos. Os torneios são curtos, mas numa viagem dessa, se o menino no futuro não vira profissional, ele vira consumidor do produto basquete. E é o que precisamos. Meu menino foi para Curitiba jogar e fala disso até hoje. Foi para Franca, e fala até hoje que atuou no Pedrocão”, relatou.
“Os Brasileiros de base, no passado, também era assim, e montava todas as Seleções Brasileiras. Então, essas competições da base são muito importantes. Sem ele, você não descobre jovens talentosos Brasil afora”, finalizou Ricardinho.