A tradição da Copa do Mundo de Futebol está de volta e a Rússia, país-sede desta edição, já foi palco de cestas de várias jogadoras com história na LBF CAIXA. No momento em que o mundo se vira ao que acontece na antiga União Soviética, aproveitamos para convidar algumas delas a contar suas experiências na terra da Copa, de extenso território, clima gelado e povo caloroso.
Começamos esta série com Helen Luz, comentarista da LBF CAIXA 2018 pela TV Gazeta. A campeã mundial e medalhista olímpica atuou na primeira LBF CAIXA, em 2010/2011, ajudando o Americana a alcançar as semifinais. A competição, inclusive, encerrou a carreira vitoriosa da ala/armadora. Mas sete anos antes, a jogadora havia se tornado a primeira brasileira a atuar em solo russo.
Após uma temporada em Zaragoza, no basquete espanhol, Helen aceitou a proposta para atuar no Dynamo Novosibirsk, três vezes campeão soviético e duas vezes finalista da Euroliga nos anos 1980. “Deu aquele frio na barriga, pois eu estava indo para um país com idioma totalmente diferente, mas fui para uma equipe muito boa. O pessoal me acolheu super bem lá”, diz Helen, que cursou aulas de russo por três meses e mantém contato com sua professora e tradutora, Marina, até hoje.
A temporada 2003/2004 do Dynamo foi boa. Terceiro colocado na fase de classificação, caiu nas semifinais para o futuro campeão, o VBM-SGAU, de Samara. Terminou o campeonato em quarto lugar. “Foi uma experiência excelente e o resultado para a equipe foi ótimo. Tínhamos um bom técnico lá era uma liga bem interessante, com várias estrangeiras”, avalia.
Na segunda parte da temporada, Helen ainda recebeu uma ajuda brasileira. Karla, hoje recordista de títulos da LBF CAIXA e recém-campeã pelo Campinas, chegou ao Dynamo em janeiro de 2004 para substituir uma norte-americana que havia deixado o clube. “Cheguei à Rússia sem falar russo, arranhando inglês. E ainda por cima com aquele frio”, disse Karla em entrevista ao UOL, em 2004.
Novosibirsk é a maior cidade da Sibéria e a terceira do país, hoje com 1,5 milhão de habitantes. No inverno, a média da temperatura fica entre dez e vinte graus negativos. Por conta do clima adverso, Helen conta que todos os esportes eram praticados em ginásios fechados.
“Me assustou um pouco a temperatura. Teve um dia que a gente saiu pra viajar de madrugada, muito frio. Quando olhei no termômetro, na área externa do aeroporto, estava menos 35 graus. Eu não acreditava, e as meninas (do time) diziam que estava aquilo mesmo. Tive que comprar roupa lá, pois as roupas de frio do Brasil não servem lá. O frio chega a queimar a pele, e eu tinha um produto especial para passar no rosto. Mas o país é muito preparado, as casas, os ginásios. Brinco que às vezes eu passo mais frio no Brasil do que no tempo em que fiquei na Rússia”, diz.
A geografia, outra peculiaridade russa, foi outro desafio. O maior país do mundo tem cerca de duas vezes o tamanho territorial do Brasil, e naquela temporada de 2003/2004, o Dynamo Novosibirsk era o time mais isolado da Liga Russa – os outros times eram baseados na Rússia ocidental.
“Novosibirsk é uma cidade que fica a 5 horas de avião de Moscou. A Rússia é muito grande, então a gente ficava muito afastada da grande capital. Na maioria das vezes, viajávamos de trem. Nós chegamos a ficar 40 horas dentro de um. A gente tomava banho, almoçava e jantava dentro dele”, relembra.
Apesar das dificuldades, a experiência na Rússia foi bastante positiva para a ex-jogadora. “Realmente, foi bem diferente do que eu já tinha vivido, mas nunca me arrependi. Ir para a Rússia foi uma das melhores experiências da minha carreira. A alimentação era muito boa: eu encontrava comida do Brasil lá e comia muito caviar, uma coisa muito normal por lá. O povo é muito caloroso, receptivo, que nos tratou super bem. Pessoal nota 10. Às vezes a gente pensa, ‘os russos são frios’, mas eu vivi essa experiência e cuidaram muito bem de mim. Fui muito feliz lá”, completou Helen.